quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Silêncio


Este meu novo conto é um pouco diferente dos outros do blog, então não esperem tanta violência ou terror. Ele, na verdade, é mais uma dramatização de uma ideia que eu tenho há um longo tempo, mas nunca tive vontade de escrever antes.





Silêncio


        A paz de Harry foi interrompida pela chegada de um email ou, melhor dizendo, por ele tê-lo visto, o que aconteceu cerca de duas semanas após ele ter sido enviado. O dia começara normal e silencioso, como eram todos os dias naquela cabana isolada da cidade. O maior barulho que ele podia ouvir era o canto dos pássaros pela manhã e os estrilos dos grilos durante a noite. O homem apreciava a tranquilidade do campo. A vida de eremita o agradava, pois ele não precisava conviver com o cinismo e a falsidade das pessoas. Detestava elas. Preferia mil vezes a companhia dos pássaros e dos grilos.
        Sua casa era pequena, mas aconchegante. Tinha três cômodos: um sala-cozinha, um pequeno quarto e um banheiro. Dentre os poucos luxos que haviam lá, estavam um violão e um computador velho, onde o morador ouvia música e se mantinha informado sobre o mundo através da internet. O problema dele, apesar do que poderia parecer inicialmente, não era com a sociedade, mas sim com as pessoas. Quisera viajar pelo mundo quando era criança, conhecer vários lugares inusitados e viver muitas aventuras, mas seu carma era ficar afastado de tudo aquilo ou enlouquecer. E agora, aparecia aquela complicação: seu pai falecera. O enterro havia sido há dias, certamente, e todos deveriam estar irritados porque ele não apareceu. Sempre fora o pai que o ajudara nas horas mais difíceis de sua vida, mesmo quando não o entendia, por isso, ele sabia que era sua obrigação ir ao menos até o túmulo do velho homem.
        Passou o dia pensando em como faria a visita. A alternativa que mais lhe agradava era ir em um dia e voltar no mesmo, passando alguns minutos na frente do túmulo de seu velho pai  e indo embora logo em seguida. Porém, outro problema de sua personalidade, além de não suportar o convívio com outros seres humanos, era nunca ter aprendido a deixar a saudade de lado. Fazia três anos que não via a mãe, e mesmo que ela não conseguisse compreendê-lo como o pai fizera, queria revê-la. O que lhe incomodava era saber que o passeio acabaria se prolongando assim, e que isso não faria bem a ele. Resignado, decidiu se esforçar para fazer da viagem o mais curta possível e começou a arrumar sua mochila.
        Na manhã seguinte, ele já estava chegando na cidade. Desceu do ônibus na rodoviária, usando fones de ouvido e ouvindo música no volume máximo. Quem o visse acharia que ele vivia em seu próprio mundo, com seu olhar distante, como se estivesse vendo algo que ninguém mais via. Estavam errados. Ele amaria estar vivendo em outro mundo, pois andar em meio àquela multidão lhe enchia de terror, então, ele tentava não olhar para as pessoas ou escutá-las. Simplesmente se esquivava de quem aparecesse pelo caminho e seguia até o cemitério onde disseram que o pai estava enterrado.
        Chegando no lugar, foi atingido por memórias desagradáveis. Foi naquele local, sete anos antes, que sua vida começou a desmoronar. Foi no enterro da tia Wilma. Lembrava do dia como se tivesse tudo tivesse acontecido na semana anterior, mas conseguiu afastar seus pensamentos quando chegou em frente ao túmulo. Olhou em volta e viu que estava sozinho. Sentindo-se seguro, tirou os fones de ouvido e se ajoelhou. Lá estava o corpo do homem mais gentil que ele conhecera na vida. A única pessoa que conseguiu chegar perto de entendê-lo. Em seu epitáfio, estava escrito: “Aqui jaz um homem bom. Um bom pai e marido, que levou alegria a todos seus familiares e amigos enquanto viveu”. O homem ajoelhado achou apropriado. Logo, lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Estava triste, inconsolável.
        Ele não fazia ideia de quanto tempo ficou lembrando e sentindo falta do pai. Sua atenção saiu daquela nostalgia triste quando ouviu o barulho de passos. Olhou para trás e viu sua mãe.
        ”Meu deus, ele está horrível”
        A mulher fitou o filho por alguns instantes, inexpressiva, e então saiu correndo para abraçá-lo. Ela falou muito, mas ele não prestou atenção em nada. Dentro de sua mente, ela só conseguia pensar em como estava feliz em ver o filho novamente. Depois de algum tempo, parou e ficou olhando-o, sem pensar absolutamente nada. O silêncio foi delicioso para Harry.
        — Meu amor... eu... senti tanto a sua falta... - “por que você teve de sumir? por favor, diga que vai voltar”
        Harry ficou parado, olhando para o chão. Sabia a resposta que ela queria ouvir, mas não ousava materializá-la com palavras. Por fim, ele supirou e disse: “eu te amo”, e os dois se abraçaram.
        Dizer eu te amo sempre fora uma saída fácil com a mãe. Ela simplesmente não conseguia compreendê-lo, o achava antissocial e desajeitado e se preocupava muito com ele, mas não poderia compreender a magnitude dos problemas do filho, que preferia mantê-la no escuro. Só contara o segredo a duas pessoas: sua ex-namorada e o pai. A ex-namorada fugiu para nunca mais voltar e o pai se esforçou como pôde, mas também tinha suas dificuldades em lidar com Harry.
        Na volta para casa, Harry colocou os fones e deixou o volume da música baixo. Poderia ouvir a mãe, mas o barulho provavelmente afastaria o maldito barulho das pessoas em volta. Chegando em casa, ele foi ao seu quarto, que estava idêntico a como tinha sido deixado há cinco anos atrás, com exceção, é claro, de que estava mais arrumado. Não gostava da sensação de voltar àquele lugar. Fazia com que sentisse saudade de uma época em que os tempos eram mais simples, em que ele conseguia ser feliz. Aumentou o volume da música e deitou na cama, apagando logo em seguida.
        Acordou com a mãe o sacundindo. Já era noite e estava na hora do jantar. Sabia que os irmãos estariam lá, e isso o desanimava imensamente. Desceu as escadas e foi para a sua tortura. A comida era peru assado e salada, e estava deliciosa, porém, o clima do jantar conseguia estragar qualquer gosto bom.
        Os nomes de seus irmãos eram Robert, Alice e Paul. Ele era o segundo irmão mais velho, sendo somente mais novo que Robert, que não estava presente, pois estava trabalhando naquela noite.
        Sentou-se na cadeira e o silêncio predominou por um minuto.
        ”Como ele é estranho”, pensou Alice. Harry levantou os olhos e olhou bem para ela nesta hora. “Oi, Alice”, disse. Olhou para o caçula da família: “Oi, Paul”. Ambos deram oi amigavelmente e perguntaram como ele estava, mas por entre suas palavras doces, seus pensamentos revelavam o quão estranho, e até mesmo alienígena, eles achavam o irmão.
“Será que ele acha que pode voltar aqui cinco anos depois de sumir para algum fim de mundo e vai magicamente voltar a ser parte da família?”, “Esse cara ‘tá mais estranho hoje do que era antes”, “Ah, meu filho, porque você fica aí, quieto?”. Harry baixou a cabeça e tentou parar de ouvir, mas não conseguia. “O que ele está fazendo? Parece que ‘tá se espremendo com vontade de cagar”. Aquilo era nauseante. Sentia-se um estranho jantando com pessoas com quem passou a vida junto. Mas não eram as palavras deles que faziam com que ele se sentisse mal, era o que não diziam, essas coisas que ficavam ditas nas entrelinhas, que mostravam que o lugar dele não era ali. Decidiu que iria para sua casa no campo logo pela manhã.
        — Harry, gostaria que ficasse com a gente pelo menos até amanhã.
Ele levantou a cabeça e olhou-a, triste. Antes que pudesse falar, sua mãe mostrou que ela também sabia ler pensamentos:
        — Amor, é muito importante para mim. Eu sei que você se sente... - “você nos odeia? porque não consegue ficar junto de sua própria família?” - desconfortável aqui. Mas faça isso por mim, estou tão triste desde que o seu pai... - “não posso chorar, não em frente às crianças. Segure-se, mulher” - por favor.
        Harry não conseguiu recusar aquele pedido. Estava decidido a sair cedo no domingo, mas passaria o sábado com a família. Por mais que lhe fosse sofrível o convívio com outros seres humanos, amava a mãe demais para fazê-la sofrer também.
        A noite foi horrível. Em seus pesadelos, ele reviveu o dia em que começou a ouvir pensamentos pela primeira vez, durante o enterro da tia Wilma. Ele tinha dezesseis anos. Todas as pessoas estavam vestidas de preto, e chuviscava um pouco. Ele estava muito triste, aquela fora a sua tia favorita, e ele havia sido pego totalmente de surpresa pelo acidente. A maioria das pessoas chorava ou, ao menos, expressava tristeza no seu rosto. Foi quando ele chegou perto do seu primo Arthur que algo estranho aconteceu.
        “Essa velha maldita morreu tarde”.
        Harry quase falou alguma coisa, mas percebeu que ninguém havia dito aquilo, ele simplesmente havia escutado. Olhou para o outro lado e veio outra voz:
        ”Quanto será que a velha vai deixar de herança? será que vai ter algo pra mim?”, enquanto isso, Arthur voltava a pensar: “Vou chegar em casa hoje e foder a Alice, ah, se vou, vou comemorar esse dia com estilo”. Harry estava horrorizado, o que estava acontecendo? Quando olhou para sua irmã, ela estava sorrindo discretamente para Arthur, que sorriu que volta. O desconforto fez Harry sair para dar uma volta, mas mesmo assim, ele ainda conseguiu ouviu um tio pensar “ah, que vontade de cagar”.
        O fato de que várias pessoas tinham pensamentos nobres sobre a falecida tia Wilma não acalmou o garoto. Quando a família foi embora, a irmã foi para a casa dos pais de Arthur, alegando fazer um trabalho de escola.
        Acordou. Amaldiçoou o seu coração mole. Não tinha esse pesadelo há meses, mas agora que retornara para a cidade, todo aquele tormento voltou. Lembrou de todas as coisas que ouviu, todos os segredinhos sujos de sua família e amigos: sua mãe traindo o pai com o dentista, o irmão mais novo e o seu vício secreto por cocaína e até mesmo seu melhor amigo, que tinha fantasias sexuais com cabras e mulheres vestidas com roupas de mergulho. Ele não queria saber de nada disso, e muito menos de todo o ciúme, egoísmo e cinismo das pessoas. Todas elas desejavam o mal umas das outras, até os amigos dele entre si mesmos. A humanidade não passava de um bando de gente falsa e depravad, e ele só queria distância daquelas pessoas e de seus pensamentos.
        Boa parte do dia foi tranquilo. Quase todos os irmãos saíram para cuidar de suas vidas, e ele ficou a sós com a sua mãe. Pela boca dela, descobriu que ela estava se sentindo muito sozinha ultimamente, mas que estava feliz porque Robert estava se saindo muito bem no trabalho como repórter e Alice estava a um ano de terminar a faculdade. Pelos seus pensamentos, descobriu que ela sentia uma culpa terrível por nunca ter confessado ao marido sobre seu caso com o dentista, e que ela estava preocupada que Paul fosse gay. Ele quis consolá-la e dizer que ele só tinha gostos estranhos, mas sabia que não conseguria trazer o assunto à tona sem contar como sabia que ela estava desconfiada. Mãe e filho almoçaram sozinhos, e ele ficou sabendo que no fim da tarde finalmente poderia rever Robert. Gostava muito do irmão mais velho, ele era a pessoa mais honesta que ele conhecia (até mais do que o pai), e apesar de ser meio insensível às vezes, sempre protegera o seu irmãozinho.
        Quando o irmão finalmente chegou, ele percebeu como ele estava diferente. Na época que era um estudante de jornalismo, o irmão gostava de se vestir de preto e deixar o cabelo espetado usando sabão, mas agora ele estava usando uma camiseta social e parecia bem mais comum e sério. O irmão o convidou para uma volta de carro, e ele aceitou, querendo passar algum tempo com ele.
        — Então, tirou a roupa preta, hein?
        — Sim, existem sacrifícios que todos temos que fazer em nome do trabalho - “ai, ai, não quero falar sobre isso...” e sorriu, um pouco triste, mas seria difícil para alguém que não pudesse ler mentes perceber.
        — Mas não é como se te obrigassem a não usar mais nem em casa, né?
        Robert ficou quieto enquanto dirigia. Mentalmente, amaldiçoava a sua incapacidade de mentir direito. Vários pensamentos passaram pela sua cabeça durante uns seis ou sete segundos de silêncio, e então o jornalista exteriorizou o que estivera pensando:
        — Eu simplesmente não posso mais viver aquela vida, sabe? Toda aquela farra, toda aquela bebedeira com os meus amigos, ficar ouvindo rock o dia inteiro. Aquilo não me levava pra frente na vida, ‘tá ligado? Achei melhor largar tudo de uma vez. - “e quando a Betty me traiu, aí sim foi fácil decidir. Todas as coisas me lembravam dela”
        Harry não queria mais conversar. Era sempre assim, para cada coisa que alguém dizia, outra não era dita. Todo mundo tinha que ficar escondendo seus sentimentos ou suas verdadeiras opiniões o tempo todo. Tudo aquilo era tão irritante. Trocaram mais algumas palavras no carro, mas Harry voltou a se fechar, e todo o resto do diálogo se resumiu a Robert contando algumas histórias engraçadas de seu trabalho.
        Antes de ir para casa, Harry ainda foi arrastado até o centro da cidade, onde uma banda local estava fazendo um show, que o irmão foi informado na última hora que deveria cobrir. “Vai ser rapidinho, disse ele, tiro umas fotos e em dez minutos vamos pra casa, vem comigo”, ele disse. Infelizmente, o irmão mais novo havia esquecido os fones de ouvido, e foi engolido pela imensidão de pensamentos alheios assim que se aproximou do lugar do show. Não demorou dois minutos para ele ser tomado por uma terrível enxaqueca, então a única coisa que conseguiu fazer foi tentar se afastar das pessoas e se encostar em um muro longe da multidão, enquanto esperava o irmão voltar do trabalho. Foi assim que encontrou a pessoa que menos esperava encontrar.
        — Oi. Eu não sabia que você tinha voltado...
        Por um momento, a dor de cabeça de Harry foi tão forte que ele não conseguiu sequer entender o que sua ex-namorada dizia, mas então tudo ficou claro. Ele olhou para ela, enquanto ela pensava “não pense em nada, ele vai te ouvir, não pense em nada”. Ele esboçou um sorriso e levantou para dar um abraço nela.
        — Não voltei. Vim só ver minha família. Você... sabe o que aconteceu com meu pai?
        — Sim... - “tadinho” - meus pêsames.
        Houve um silêncio constrangedor, em que a única coisa que Harry conseguiu ouvir foi o desespero de sua namorada tentando pensar em algo para dizer para que ele não conseguisse ler seus pensamentos.
        — Se você quiser ir embora, você pode ir, sabe? - disse Harry, conformado - Eu sei que você tem terror que eu leia seus pensamentos.
        “Ai, ele está fazendo isso agora, não pense no Brad” Olhou para o ex. “Droga! Agora ele ´tá desconfiado!”. “Brad é meu namorado”, ela disse, em tom explicativo, e talvez até um pouco envergonhado. “Ah, droga, cara, eu não consigo conversar com você”.
        — Você me acha estranho, desconfortável e intrometido. Eu sei.
        Ela parou pensativa por alguns instantes, mas, sabendo que ele sabia o que ela ia perguntar, falou de uma vez:
        — Você ainda me ama?
        Harry ficou em silêncio. Aquela situação toda era injusta. Ele sabia tudo que ela pensava ou sentia, mas ela não sabia absolutamente nada dele. Decidiu mentir.
        — Não. Já se passaram sete anos.
        — Que bom. Espero que encontre uma garota que seja boa para você - “Eu realmente espero, Harry, me sinto culpada por ter te largado”.
        — Eu entendo. Foi burrada minha te contar.
        “Se eu não for embora logo, eu vou chorar, me sinto tão mal”
        — Pode ir. Eu não ficar magoado - sem dizer uma palavra, ela se foi, confusa e triste, a pobre menina se sentia invadida. Ele estava magoado. “Eu ainda te amo”, pensou.
        Eles haviam terminado logo depois de Harry contar que podia ler pensamentos, o que aconteceu cerca de duas semanas depois do enterro. Ela não acreditara no início, mas ele provou logo que estava falando a verdade, e a relação dos dois se deteriorou rapidamente. Eles já estavam juntos há quatro anos, e ela fora a única namorada que ele teve na vida, mas a paranoia dela por causa dos misteriosos poderes do namorado fez com que tudo terminasse. Ela tentava não pensar nas coisas, o que fazia com que ela nunca conseguisse agir normalmente perto dele. Depois dela, ele nunca mais ficou com nenhuma outra garota, porque podendo ler a mente delas, ele não conseguia enxergar elas de outra forma que não fosse a de garotas superficiais, egocêntricas e falsas.
        Após chegar em casa, Harry passou algum tempo se sentindo desconfortável junto da famíia, então foi arrumar suas coisas e dormiu. Durante o sonho, viu o pai:
        — Olá, campeão!
        — Oi, pai.
        — Como vão as coisas, filho?
        — Uma merda, pai.
        — Eu sei. Eu posso ler seus pensamentos.
        — Aqui estamos em igualdade. - disse sorrindo.
        — Não seja bobo, eu sou só um sonho.
        Harry olhou para a figura do pai, sentado em uma cadeira dentro de uma sala cinza totalmente vazia, exceto pelo móvel. Harry estava escorado em uma das paredes, olhando para os seus pés.
        — O que eu faço?
        — O que você pode fazer?
        — Nada.
        — Exato.
        Silêncio novamente. Lhe incomodava não conseguir ler os pensamentos do pai, mesmo sabendo que nada daquilo era real.
        — Eu sinto sua falta, pai. Você foi a única pessoa que me entendeu. Você sabia como eu era, mas não fugiu de mim. Você não tinha medo de mim, e... agora está...
        — Morto. Mortinho da silva. - sorriu - Os mortos não fazem sexo, sabia?
        — E nem eu.
        — Mas você não está morto.
        — E você sinceramente acha que vou conseguir ficar vivo por aqui por muito tempo? Você se lembra de quando me impediu? - estava ficando com raiva.
        — Óbvio que eu lembro. Mas não era eu. Era seu pai.
        — Eu não aguento viver com essas pessoas! Eu sei coisas que eu não deveria saber! É horrível! Eu não aguento mais... mas eu não quero voltar. Eu amo a minha mãe, meus irmãos. Eu amo minha ex namorada!
        — Ah, mas agora o Brad existe - disse o sonho vestido de pai, fazendo uma careta.
        — Foda-se o Brad.
        — Foda-se o Brad, é isso aí.
        Harry sentou no chão. O homem desapareceu, e uma voz sussurrou no ouvido do sonhador:
        — Você passou dois anos aqui e cinco anos lá. Você sabe qual lugar é melhor. A escolha é sua, Harry. Você sabe que em só um lugar você vai conseguir viver.
        Harry acordou ofegante. Tentou dormir pelo resto da noite, mas não conseguiu.
        Na rodoviária, a família o assistia partir. A mãe o olhava, se segurando para não chorar, mas seus pensamentos deixavam claros o quão triste ela estava. Seu filho colocou os fones de ouvido no volume máximo e entrou no ônibus.
        Horas depois, quando a noite chegava, ele finalmente chegou em casa. Harry desligou a música e ouviu o silêncio por alguns segundos. Gostava daquilo. Deu um suspiro e entrou dentro de casa.


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